São Paulo – Em cenário marcado por uma crise na segurança pública, o estado da Bahia atingiu, apenas neste mês, a marca de 52 mortes decorrentes de ações policiais. Os eventos mais recentes incluem operação policial realizada em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. Ela resultou em duas mortes, e outra ação em Acajutiba, localizada a 184 quilômetros da capital. Lá, cinco pessoas perderam a vida e duas ficaram feridas ontem (26).
As mortes ocorridas em Lauro de Freitas ocorreram na Vila Praiana. São resultados de uma operação da Polícia Civil, em área que servia como esconderijo para membros de um grupo criminoso. A Polícia Civil alega que suas equipes foram alvo de disparos e reagiram. Isso resultou nas mortes de Niraldo Cândido dos Santos Neto, 27 anos, e Lucas de Jesus Costa, 25 anos, ambos com histórico criminal.
Quanto à ocorrência em Acajutiba, a Polícia Militar foi acionada após informações sobre a presença de pessoas armadas em um abrigo improvisado na área de mata. O local é conhecido como estrada do Cumbe. Segundo a PM, os suspeitos atiraram contra os policiais. Então, eles responderam com tiros, resultando em sete pessoas feridas no local, das quais cinco não sobreviveram aos ferimentos. A PM apreendeu armas de fogo, incluindo uma espingarda artesanal, um fuzil, uma pistola e três revólveres, além de embalagens contendo porções de maconha, cocaína e crack. O caso está sob investigação da Polícia Civil.Cenário da violência
Até 2022 e no primeiro quadrimestre de 2023, a cidade de Acajutiba, com população de 13.700 habitantes, não havia registrado nenhuma morte violenta. Isso de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do estado. As 52 mortes recentes na Bahia são de categoria oficial de “autos de resistência”. São situações em que ocorre alegado confronto entre suspeitos e as forças policiais.
Estas mortes se somam às estatísticas preocupantes da violência na Bahia. O estado enfrenta um cenário de acirramento de conflitos entre facções criminosas. Chacinas e aumento da letalidade policial, principalmente nas periferias das cidades, onde famílias sofrem com a perda diária de jovens negros e de baixa renda.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), em uma recente declaração em Brasília, assegurou que as forças de segurança do estado manterão sua determinação no combate à onda de violência, enfatizando que não ordenou que “trouxessem corpos”. Ele destacou a complexidade das disputas entre facções criminosas e a importância das operações de inteligência no enfrentamento dessas questões.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que a Bahia é o estado com o maior número absoluto de mortes violentas no Brasil desde 2019. Em 2022, houve uma redução de 5,9% no número de ocorrências, totalizando 6.659 assassinatos. Além disso, o estado liderou as estatísticas de mortes decorrentes de intervenção policial, com 1.464 casos no último ano, uma média de 28 por semana. Desde 2015, o número de mortes registradas como “autos de resistência” quadruplicou no estado.
Repercussão
O cenário de violência preocupa autoridades de todo o país. Mesmo o governo federal está envolvido em operações para mitigar as mortes na região. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, destacou unidades da Polícia Federal para atuação no estado. “Nós temos conversado com o governador, com o secretário de Segurança [Marcelo Werner], para que haja um aperfeiçoamento, um aprimoramento dessas ações. É um quadro muito desafiador, muito difícil. O que nós, do governo federal, fizemos neste momento foi fortalecer a presença da Polícia Federal para apoiar essas ações”, relatou o ministro.